SEM TEATROS. COM TEATRO.
Este
Circuito é um PROTESTO em forma de celebração e conclamação.
Celebra
o movimento teatral que corre no corpo de Fortaleza, expande-se por suas
artérias. O momento, inédito, em que tantos grupos, coletivos, artistas,
estudantes, pesquisadores, amantes de teatro ocupam as mais variadas paisagens
da cidade, estabelecendo novas formas de relação com moradores, bairros,
espaços, gentes, públicos. De norte a sul, leste a oeste, Bairro Ellery à
Serrinha, José Walter a Dias Macedo, o teatro promove a RE-VIRADA, de fato, da
cartografia cultural de Fortaleza. Cumpre seu destino de “ir onde o povo está”.
Conquista poeticamente, mas também bravamente, territórios de grande riqueza humana,
ressentidos, por outro lado, de maiores perspectivas, em meio a uma realidade
árida - porque, via de regra, a vida nesta cidade é árida. Carece de
imaginação, afeto, encontro, cultura humana: exatamente a zona física na qual o
teatro trabalha. Celebrar um Circuito Alternativo de Teatro significa
reconhecer a relevância de todos esses espaços – físicos inclusive – de
atividade teatral que cumprem função de verdadeiros centros culturais
espalhados por Fortaleza. Promovendo formação artística e de público,
expandindo possibilidades de entendimento, novas razões de ser. Uma sociedade
mais múltipla, tolerante e preparada contra as mistificações sociais de todo
tipo – pois é da natureza do teatro pôr todas as coisas a nu e fabular sem
culpas nem dissimulações sobre o Humano. É por esse motivo também que,
historicamente, desde sempre, quem tem o rabo preso, quem não se compromete com
a verdade e com o Humano, tem sérios problemas com o teatro. Melhor seria
deixá-lo de canto, sem canto.
E é
por isso que este Circuito também conclama. Dá seu grito do bode, impertinente,
e necessário. Sua realização é também protesto contra uma tentativa de
assassinato cultural do teatro – e sejamos justos, das manifestações artísticas
todas – em nossa cidade, nosso Estado. Assassinato cultural aqui não é figura
de linguagem. É constatação de fatos. Como empregar outro termo neste momento
em que numa capital de 2,5 milhões de pessoas, pode-se contar nos dedos de uma
mão os teatros que funcionam sob responsabilidade pública ou privada? E dos
quais três (Theatro José de Alencar, Teatro SESC Iracema e Teatro Dragão do
Mar) entram, em breve, em obras, sem alternativas aos seus fechamentos? Como
admitir que concomitante a isto, teatros históricos, como o Carlos Câmara e o
São José estejam parados, sem estimativas de funcionamento? Que outros, como o
do Centro Cultural Bom Jardim, por sucessivas más administrações, estejam às
moscas? Em suma, uma metrópole sem teatros? Sobretudo: como aceitar que dentre
os mais de 180 bairros de Fortaleza, somente uns poucos e privilegiados
(espremidos entre Centro-Aldeota) disponham de teatros acessíveis à população?
Não é de estranhar, se considerarmos que as secretarias de cultura – e outros
órgãos culturais de cunho privado que se dizem compromissados com a sociedade –
adotam, nos últimos anos, posturas cada vez mais avaras (pão-duras, mesquinhas
mesmo) para suas políticas culturais. Não cumprem sequer suas obrigações
básicas, como o lançamento e pagamento de editais artísticos. Não compreendem,
muito menos fomentam, as atividades promovidas pela classe teatral de Fortaleza
(que não para de crescer e qualificar-se). Não tomam conhecimento das sedes de
grupos/coletivos teatrais que, espalhadas pelos bairros da cidade, cumprem uma
função que deveria ser compartilhada. Teatro é um bem público. Políticas para o
teatro, incluindo para os espaços em que o teatro acontece, são tão necessárias
quanto àquelas para hospitais, escolas, segurança pública. Nossa conclamação
junto a todos que dividem esse espaço urbano conosco é para esse entendimento:
o teatro é necessário. É uma construção amorosa, apaixonada e também cidadã. É
tempo da cidade, sobretudo de suas autoridades, reconhecê-lo.
Convidamos
todos a conhecer o I Circuito Alternativo de Teatro. Um verdadeiro festival
teatral extra-oficial, feito sem nenhum tipo de patrocínio ou apoio público,
inteiramente construído pelos artistas da cidade. À margem dos teatros oficiais
que estão fechados, mas COM muito teatro a movimentar as sedes de diversos
grupos teatrais de Fortaleza. Recebendo outros tantos grupos, artistas e
trabalhos teatrais desta urbe, oferecidos generosamente de forma gratuita, sem
cachê nem cobrança de bilheteria. A alertar para a ausência de políticas para o
desenvolvimento do teatro nesta grande – e ainda árida metrópole. E a afirmar
que, apesar disso, o teatro está aí. Nas mais diversas “quebradas” da capital
cearense.
Movimento
Todo Teatro É Político.
Julho
de 2013
www.movimentocoopce.blogspot.com
/ www.circuitoalternativodeteatro.blogspot.com.br
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